Voltamos com a última parte dessa entrevista especial com o grande Luc Monteiro, onde ele fala sobre a Gold Classic, categoria desenvolvida por ele.
Colaboração:
Keko Gomes
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Revisado Escrito por Francisco Brasil
Planeta Velocidade – Primeiramente o que seria, e como classificaria essa incrível categoria que é a Gold Classic?
Luc Monteiro – Ela na verdade não traz nada de novo, não foi invenção nossa. Coloco no plural porque o Edson Massaro, que é o promotor da Cascavel de Ouro, participou da coisa toda no início. Fazia muito tempo que eu queria ver essa categoria na pista em Cascavel. Desde 2004, quando fui a Interlagos para uma etapa da Pick-up Racing e vi a corrida da Classic Cup. A Gold Classic é, na verdade, a junção dos regulamentos das categorias de carros clássicos e antigos que já existem nos regionais, basicamente os de São Paulo e do Rio Grande do Sul, e Minas Gerais também entrou nesse assunto a partir da construção do autódromo de Curvelo. No Paraná não existia um campeonato assim, mas já havia a Speed Fusca e a Turismo 5000, dos Omega. Tudo isso foi colocado na mesa e organizado de forma a termos um regulamento que contemplasse todo mundo, com subdivisão em categorias de acordo com os carros. É basicamente isso. Uma receita muito simples, até.

PV – A Gold Classic conta com o maior grid do Brasil atualmente, foi a preliminar da Cascavel de Ouro em 2018 e 2019 e vai ser a categoria suporte da Sprint Race em 2020, além de fazer novamente a preliminar da Cascavel de Ouro esse ano. O que essas parcerias trazem de benefício para a categoria?
LM – O maior grid ainda é o da Cascavel de Ouro, mas estamos na cola (risos). A operação de realização de um evento de automobilismo é complexa e cara, a Gold Classic ainda não tem maturidade financeira para se atrever a realizar suas etapas sozinha. O melhor dessas parcerias é pegarmos um evento pronto. Isso não é demérito algum. Pelo contrário, vejo como um voto de confiança dos promotores no potencial que a categoria tem. No passado cometemos a boa loucura de arriscar uma edição em Interlagos. É o principal autódromo do Brasil, e também o mais complicado para se fazer um evento, por inúmeros motivos. Trilhamos o caminho mais fácil, que foi a parceria com o Interlagos Motor Clube para incluir a Gold Classic em uma etapa do Paulista de Automobilismo. Foi uma negociação metódica e complicada, porque o Endurance Brasil teria uma etapa no mesmo dia no Velo Città e eu já sabia que haveria um esforço da associação de pilotos deles para mudar essa corrida para Interlagos – como de fato acabaria acontecendo. E a Turismo Nacional também tinha em seu calendário uma etapa em Interlagos naquela data, embora as bases ainda não estivessem acertadas. O temor do clube era que poderiam faltar tempo e espaço para todo mundo, até porque uma etapa normal do Paulista, mesmo sem eventos visitantes, já tem uma programação bastante intensa. O Claudinho Vieira teve uma habilidade monstruosa para acomodar todo mundo nos boxes e no cronograma. No nosso caso, como sempre faço questão de tratar as coisas com bastante antecedência, ficamos com as tendas que estavam montadas pela prefeitura na reta do traçado antigo, logo depois a Curva do Sargento. Ficamos muitíssimo bem acomodados, conseguimos encaixar três treinos livres na programação e duas belas corridas no sábado do evento. Ah, sim, o Endurance Brasil e a Turismo Nacional também conseguiram seus espaços no evento. Para 2020, a parceria entre GT Sprint Race e Gold Classic reflete só o ótimo convívio que tenho com o Thiago Marques desde que ele criou a Sprint em 2012 – sou narrador da categoria desde então. Um dos pontos da parceria estava na formatação de um evento cada vez mais atrativo para o público. Bem, por tudo que está acontecendo agora nós obviamente não teremos público nos próximos eventos, o que não quer dizer que tenhamos parado de pôr as ideias no papel e de deixá-las devidamente discutidas para quando chegar o momento e transferi-las do papel para os autódromos e para a mídia.

PV – Qual foi a maior dificuldade no início da categoria, se é que teve alguma? Porque olhando o sucesso que ela é hoje, é até difícil imaginar que possa ter tido algum empecilho.
LM – De fato, não houve grandes dificuldades porque tivemos a felicidade e ver o problema maior nascer já resolvido, que foi justamente a união dos pilotos em torno da causa. A categoria é deles, na verdade; eu não tenho um carro de corrida ou uma equipe, sequer. A dificuldade que passou a existir está na dimensão desse Brasilzão de meu Deus, porque precisamos fazer eventos da Gold Classic em mais lugares, fora do eixo Paraná-São Paulo, e a consequência imediata disso é uma operação logística que impacta o orçamento das equipes. Todos concordamos que precisamos ter uma edição no Rio Grande do Sul, por exemplo, mas imagine o que isso impactaria para as equipes de Minas. Da mesma forma, ter uma edição em Minas é uma necessidade, o que seria trágico para a operação de transporte dos gaúchos. Cito esses dois estados a título de exemplo, porque são os mais distantes entre si no mapa dos participantes da Gold Classic. Há interesse da própria rapaziada o Nordeste, e poxa, seria fantástico termos a Gold Classic num dos autódromos de lá, mas essa dificuldade com os custos seria ainda mais evidente. Um dia ainda conseguiremos levar todo mundo para lá e fazer uma maratona de corridas sucessivas em duas pistas, ou nas três. Sei lá, numa época de férias, vai todo mundo com as famílias para curtir as praias e na sexta e no sábado de cada semana nos enfiamos nos boxes para treinos e corridas. Bem, aqui já comecei a sonhar acordado. Como aconteceu em todos os passos que já demos com a história da nossa categoria.

PV – Quando surgiu a ideia de pegar modelos históricos e icônicos do automobilismo nacional e juntar todos na mesma pista em uma única corrida? Você achou que teria todo esse sucesso?
LM – Em 2018 estávamos pensando em uma categoria para integrar a programação da própria Cascavel de Ouro e que tivesse um grid razoável, porque um ano antes tínhamos feito uma parceria com a Old Stock Race, que veio para cá fazer uma prova. Tinha tudo para ser épico, até porque a prova deles em Cascavel – duas, na verdade – valia como etapa oficial do Campeonato Paulista, que é um artifício permitido pelas regras. Mas os pilotos da Old Stock não apostaram na ideia, cada qual por seu motivo, e o número de carros na pista foi muito baixo, vieram só 10 ou 11. Em um momento da primeira corrida havia só quatro em ação. Ficou feio para nós e para eles. Aí, em 2018, começamos a pensar no assunto cedo. Quem convidaríamos? Alguma categoria de monopostos? Uma ideia que eu tinha a sugerir era a Superturismo gaúcha, uma categoria muito legal para quem corre e para quem assiste, mas não levei o assunto adiante, porque o calendário deles em reta final de campeonato tornaria a coisa inviável. Falei para o Massaro me deixar organizar uma corrida no formato da Classic e ele me chamou de doido, justamente porque o Paraná não tinha a Classic – hoje ela existe no Campeonato Curitibano. Falei que conseguiria colocar 20 carros no grid, o Massaro bateu a caneta na mesa do escritório dele e falou para mandar bala na ideia. Aí sugeri o nome “Cascavel Classic de Ouro” e ele vetou, com razão, porque faria confusão no marketing do evento. O nome “Gold Classic” foi sugestão dele, pensado na hora. Soou bem e ficou.

PV – Falando em sucesso, a que você atribui esse sucesso tão grande da categoria?
LM – Agradeço pela observação de “sucesso tão grande”, embora não seja tudo isso. Mas não dá para negar, claro, que a Gold Classic conquistou um espaço interessante em um curto espaço de tempo, e isso tem, sim, um motivo bem claro: a união dos pilotos e equipes em torno da ideia. Isso tem um monte de fatores envolvidos. A partir do momento em que o Massaro me deu carta branca para aquela primeira edição de 2018, comecei a rabiscar bastante sobre formato, regulamento, valores. Na parte técnica pedi socorro ao Paulo Nazzari, que é craque, porque sou completamente leigo nessa parte, e o Paulo, que já estava sobrecarregado de trabalho, me apresentou depois o Rafael Schuhli, que é quem cuida dessa parte hoje. Na questão de valores, eu tinha duas opções: formatar de um jeito que me rendesse uma boa grana se a prova desse certo ou dividir esse pretenso lucro financeiro entre os pilotos em forma de uma inscrição mais em conta. Foi o que fiz, diminuí o valor de inscrição em relação ao que estava considerando, e deu certo. Lembra que a ideia era conseguir 20 carros no grid? Chegamos a ter 76 inscritos. Quando digo inscritos, falo de pilotos que depositaram o valor da inscrição. Houve uma chuva de desistências e largamos com 44 carros, foi sensacional. Não narrei aquela primeira edição porque iria participar como piloto, e no fim acabei cedendo meu carro, que veio de São Paulo, a outro parceiro, e como o acordo para narração já estava feito mantive o combinado. Fiquei assistindo da torre da direção de prova. O Gilberto Elger, que era um dos comissários desportivos, veio me cumprimentar ao fim da primeira corrida e disse “você acabou de criar um campeonato muito legal”. A ideia de campeonato não me passava pela cabeça, isso só mudou agora em 2020, mas as palavras do Giba fizeram cair a ficha. De alguma forma, a Gold Classic tinha que continuar. Outra coisa que fez diferença, por se tratar de uma prova de nível regional, é a transmissão ao vivo das corridas – sempre na internet, às vezes na televisão também, e com geração de imagens da Master TV, que nós últimos 30 ou 35 anos respondeu pelas transmissões de automobilismo de todos os campeonatos brasileiros e de alguns eventos internacionais. Nossos pilotos sabem, praticamente todos eles concordam: se por um motivo ou outro não houver viabilidade de uma transmissão ao vivo de qualidade, não tem corrida da Gold Classic. Tem mais um ponto que acho fundamental. O organizador da categoria sou eu, mas não imponho absolutamente nada. Os pontos mais críticos são decididos em conjunto com os pilotos, e eles invariavelmente são relacionados a regulamento técnico. Envolver pilotos e preparadores em discussão e regulamento técnico normalmente é pedir sarna para se coçar. No caso da Gold Classic isso tem funcionado muitíssimo bem. Claro que tudo com os devidos filtros, que também são uma preocupação dos pilotos.

PV – Sabemos que a temporada 2020 ainda não começou, mas já existe algum plano em mente para 2021?
LM – Já, sim. Nada que tenhamos divulgado ou feito alarde, mas também nada de segredo. Quanto a 2020, é o ano em que a Gold Classic deixa de ter provas festivas para levar a efeito seu campeonato interestadual, com chancela das federações do Paraná e de São Paulo. Nosso calendário original previa três etapas, aí houve a sugestão de um grupo de pilotos para uma das provas ser de longa duração, e como já tínhamos um acordo para três eventos no formato de sempre, com duas corridas de meia hora, decidimos em conjunto que seriam quatro eventos, todos válidos para o campeonato. Curitiba, Interlagos e Cascavel com as rodadas duplas, Londrina com a corrida de duas horas. A paralisação acabou nos obrigando a rever tudo isso, então a corrida longa vai ficar para o ano que vem. Acredito bastante que conseguiremos fazer três eventos neste ano, bem escalonados com os compromissos que as equipes têm nos campeonatos regionais. Então, o primeiro plano para 2021 é a corrida longa. Outro, bem mais complexo, é a divisão do grid, e isso passa por diversas vertentes. Uma delas é que há muitas equipes investindo em seus carros visando exatamente a Gold Classic. Outra é a disparidade prevista em regulamento entre as categorias, que acaba, por exemplo, diminuindo o destaque dado na transmissão de TV às categorias de carros menos fortes. Há ainda a fase atual de resgate dos protótipos Aldee, motivada pela existência da própria Gold Classic. Inclusive o criador dos Aldee, o Almir Donato, está na nossa categoria, inscrito como piloto, e a presença dele acaba sendo um suporte espontâneo às várias equipes que estão trazendo seus Aldee de volta à vida. Somando tudo isso à perspectiva que temos de aumento do nosso contingente de carros, estamos desde o início do ano trabalhando nessa questão de separar o grid. Claro que isso só vai acontecer se cumprirmos algumas metas. Uma delas é o mínimo de 40 carros em cada grid, até porque o grid numeroso é uma das características da categoria. Isso passa também pelo contato frequente com pilotos e equipes de todos os cantos, justamente para sabermos em que pé está a posição de cada um. Uma vez isso dando certo, teremos em 2021 algo como uma reedição do que foi a Stock Paranaense dos anos 80, ou a Stock Paulista que até durou um pouco mais. Um grid para a Gold Classic, com os carros das classes Gold Speed, Turismo Light, Turismo Super e GT, e outro para a Super Gold, com as classes Premium, Super Classic e Força Livre. Isso pode acarretar um problema, que seria a necessidade de termos eventos exclusivos, sem associação com outras competições. Tudo vai ser estudado com bastante critério. A primeira exigência vai continuar sendo que os carros sejam de modelos existentes até o ano de 1993. Vai ser muito legal.
Agradecemos ao Cleiton “Keko” Gomes que fez a entrevista (via WhatsApp, respeitando o distanciamento social), e ao Luc Monteiro que foi extremamente atencioso com nossa equipe.

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Foto destaque Vanderlei Soares